6 de ago. de 2009

Nasceu João!



São Paulo (SP) - 24/03/2007

Na sexta-feira, dia 23/03 pela manhã, enquanto respondia alguns e-mails comecei a sentir algo que pareceu mais com gases do que cólica ou contração. Como estava perto da data em que eu previra o parto, prestei alguma atenção.


Continuei sentindo essas minúsculas cólicas até o meio dia, quando elas foram ficando mais fortes, mas ainda assim infinitamente mais fracas do que uma contração.

Nesse dia eu e meu marido, Emerson, marcamos a assinatura do contrato de compra do nosso apartamento na Caixa Econômica às 14h e quando chegamos lá eu ainda brinquei com as pessoas presentes que o João estava só esperando assinarmos os papéis para poder nascer, pois "caxias" como ele demonstrara ser (engravidei 1 mês após formalizar o casamento que já existia na informalidade há quase dois anos) ele também deveria estar esperando ter uma casa própria para nascer, he, he, he...
Dito e feito!

Saímos de lá e fomos direto para a consulta semanal com a obstetra. Quando chegamos lá ela confirmou que eram contrações, mas também nos lembrou que isso não significava que eu estava em trabalho de parto, pois a fase latente poderia durar vários dias. Em todo caso, nos avisou também que ia passar o fim de semana em São Paulo (ela mora em Botucatu) e que se precisássemos dela era só ligar.

Até esse momento não tinha tido nenhum outro sinal de parto como a descida do tampão ou o rompimento da bolsa, mas há uns dois dias notava algumas gotinhas de sangue na calcinha.

Saí de lá e passei na casa da minha mãe. As contrações começaram a evoluir. De vez em quando marcávamos o tempo entre as contrações só para monitorar, mas sem que minha mãe percebesse, para não preocupá-la. Por conta do aumento da dor e da proximidade das contrações comecei a desconfiar que não eram só contrações de treino, mas preferi aguardar para tirar conclusões.

Uma coisa era certa: seria ótimo se o João nascesse nesse fim de semana, pois a Betina estaria aqui em SP e não precisaríamos pensar na possibilidade dela não poder vir, ou ter outro parto ou qualquer coisa do gênero.

Decidi fazer o possível para "fazer as coisas acontecerem". Fomos à Cobasi fazer compras para os nossos gatos, fomos ao shopping comprar um presente para uma amiga que faria aniversário no dia seguinte e por pouco não fomos também ao Carrefour, ainda que as contrações estivessem aumentando gradativamente.

Ainda seguimos para a festa de aniversário de um amigo na qual tínhamos planejado dar apenas uma passadinha. Mas, diante desse desejo de apressar o parto me mantendo o mais ativa possível, decidimos ficar e dançar, comer e conversar até quando fosse possível. Chegamos à festa por volta de umas 21h e nesse momento já estava claro que as coisas estavam evoluindo e que logo mais o João estaria conosco.

Lá para a meia noite eu já não conseguia mais esconder as contrações dos convidados e às vezes tinha que parar de conversar quando elas vinham. À 01h da manhã decidimos ir para casa, pois eu já estava cansada e começando a querer me recostar. Conosco foi um super amigo que na verdade havia vindo para a festa apenas nos encontrar e seguiria para a nossa casa para batermos um papo ou qualquer outra coisa que uma gestante em seus últimos dias de gravidez deve fazer. Fomos embora e ficamos papeando até umas 03h da manhã, quando minhas contrações já estavam regulares a cada 3 minutos e durando um pouco menos de 1 minuto cada e foi quando ligamos para a Betina pela primeira vez.

Evitamos ao máximo acordá-la, pois na noite anterior ela também havia feito um parto e estava em claro desde então. Ela nos disse que aguardássemos mais um pouco e ligássemos quando as contrações estivessem durando pelo menos 1 minuto. A coisa começou a apertar mesmo nesse momento, às 03h da manhã.

Fui tomar um banho assim que nosso amigo Wagner foi embora, assustadíssimo com a nossa calma e jurando por Deus que o bebê ia nascer a qualquer instante ali em casa mesmo. Ele nos implorava para que ligássemos para a obstetra e que fôssemos para o hospital o quanto antes. Tadinho! Mal sabia ele que a coisa ainda ia longe!

(Hoje, 23 de janeiro de 2008, quase 10 meses após ter escrito a primeira parte deste relato volto para termina-lo. Meu Deus! Eu realmente não sabia que um bebê poderia tomar tanto do nosso tempo a ponto de não sobrar meia horinha para terminar este relato! Bem, agora, com as lembranças mais difusas, porém ainda bastante presentes em minha mente e coração, sigo em frente.)

Às 03h00 da manhã minhas contrações eram tão fortes que eu simplesmente não sentia vontade de me mexer. Fui para o chuveiro e percebi que, ao contrário do que li na maior parte dos relatos de parto, para mim aquela aguinha quente não servia para nada a não ser me irritar!

Me lavei, pus uma calça de moleton do meu marido (grande para não me incomodar) e uma camiseta qualquer e sentei em uma poltrona da sala tentando suportar as contrações que vinham a cada 3 minutos, no máximo. Quando deu umas 05H30 ligamos de novo para a obstetra. Ela então veio até em casa ver como estavam as coisas, mas assim que ela chegou percebeu que a coisa estava avançada e fomos para o São Luiz, como havíamos planejado.

Ligamos antes para ver se a (única, na época) suíte de parto normal estava disponível e estava. Corremos para lá. No caminho, cada buraco no asfalto parecia um chute no meu útero e praticamente todas as minhas lembranças até a hora do João nascer são auditivas, pois a dor me fazia fechar os olhos e só consigo lembrar do que as pessoas falavam.

Chegamos ao São Luiz e eu consegui ir andando para a suíte, entre as contrações. Demos uma tremenda sorte, pois logo após termos chegado chegou também uma paciente de um outro médico conhecido por realizar partos naturais, que para azar dela teve que ficar em um quartinho minúsculo do centro cirúrgico, pois são tão poucos os partos normais que esta maternidade dispunha apenas de um local próprio para estes.

Bem, no quarto, enchemos a banheira, colocamos essência de lavanda e eu entrei. De fato, por algum tempo as contrações ficaram suportáveis. Mas como toda força da natureza elas se impuseram sobre a água quente e depois de algum tempo a água já não era mais de nenhum alívio.

Nunca falei tantos palavrões na minha vida! A cada contração vinham uns três pelo menos!

Foi quando a obstetra decidiu verificar com quantos dedos de dilatação eu estava pois tudo indicava que eu estava bem avançada. Ela conversou algo com o Emerson, que eu não consegui ouvir e me disse que ia fazer um toque. Ela percebeu que eu estava sem NENHUM dedo de dilatação e com aquele milhão de contrações.

Ai meu Deus! Aquilo ainda ia seguir por muito tempo e eu estava exausta, não conseguia nem tomar água sem vomitar e não havia pregado o olho a noite toda por conta das contrações.

Neste momento, ela me disse que, se eu topasse, seria uma boa idéia que me fosse aplicada uma analgesia que durasse uma hora ou uma hora e meia, para que eu descansasse e conseguisse ir em frente, ou as próximas horas seriam muito duras para mim, já que se espera cerca de uma hora por cada dedo de dilatação.

Questionei o que significaria aquilo em termos de atrapalhar os meus planos de parto natural e ela me disse que não atrapalharia em nada, pelo contrário, ajudaria a me relaxar e assim eu dilataria mais rápido e teria condições de gastar a energia requerida para um parto. Além do quê, a analgesia apenas tiraria a dor das minhas contrações (e não a sensação delas) por uma hora e meia e depois tudo voltaria ao normal. Topei na hora, pois eu já estava cansada e a dor era tanta que meu cérebro atordoado já nem lembrava a razão porquê eu estava ali: ter um bebê, a maior felicidade que alguém pode ter (garantido!).

Entre uma contração e outra deixei o anestesista fazer a medicação e como ele prometeu, na 4a contração após a analgesia eu já estava sem dor. Que felicidade indescritível! Sem a dor, uma felicidade imensa me invadiu e eu tinha vontade de chorar de alívio e de felicidade, pois lembrei que estava tendo um filho e a que a dor que eu sentia tinha uma finalidade maravilhosa.

Sem a dor comecei a querer conversar com a obstetra e com meu marido, ambos capengas por também não terem dormido. A obstetra ria e me dizia: -"Adriana, durma, pois você precisará dessa energia e, daqui a pouco, o efeito dessa analgesia acabará." Dormi deliciosamente e dali a exata uma hora e meia, Bum! As contrações voltaram com tudo. No entanto, neste momento eu já tinha evoluído para 6 centímetros de dilatação e estava caminhando para o momento da expulsão.

Mas quem disse que eu, que tinha provado daquela maravilhosa droga, queria voltar a sentir dor? Agüentei mais um pouco e que nem um gatinho dei uma roçada na obstetra e pedi, bem baixinho, mais um pouquinho de analgesia, pois as contrações tinham voltado do exato ponto em que eu as havia deixado algumas horas atrás e novamente estavam insuportáveis e com 6 dedos de dilatação ainda me faltariam pelo menos umas duas ou três horas de evolução até a expulsão (eu não parava de fazer contas!). Ela me olhou com jeito de quem olha para filho quando apronta e disse: "Adriana, só mais um pouco, ou isso vai acabar te atrapalhando mais pra frente". Se ela não disse isso, o olhar dela disse ou minha compreensão de "mulher com contrações, mas também com medo de atrapalhar o nascimento do filho" entendeu isso.

Lá vem o anestesista e aplica mais um pouquinho da tal analgesia. Dessa vez bem menos e eu conseguia inclusive andar. Daí, comuniquei ao meu marido e à obstetra que ia aproveitar a ausência de dor para tentar adiantar o processo andando no corredor.

Parecia uma doida! Andava, andava, andava e quando a contração vinha eu agachava onde estava e fazia força. Até que uma hora minha bolsa finalmente rompeu! Um líquido ligeiramente esverdeado se espalhou pelo chão, mas como a obstetra não demonstrou nenhuma preocupação eu também não me preocupei e continuei com a minha rotina de anda, agacha, anda, agacha, anda agacha, até uma hora em que voltei para o quarto e a obstetra sugeriu que eu tentasse fazer um pouquinho de força para testar. Sentei no banquinho de cócoras, fiz força uma vez, duas vezes e na terceira força, a dor semi-adormescida acordou com tudo e estava claro que eu tinha entrado no expulsivo.

Emerson se sentou em um banco atrás de mim e apoiava as minas costas enquanto eu aguardava as contrações para fazer força. Claro que primeiro tive que fazer meu cérebro entender que tipo de força eu tinha que fazer e que músculos tinham que ser usados, mas logo ficou automático. E também voltaram os grunhidos e pequenos e inofensivos palavrões (absolutamente impublicáveis. Palavrões que escandalizariam estivadores do cais do porto de Santos).

Uma hora, sentindo que eu estava com um grito preso na garganta a Betina sugeriu que eu vocalizasse, pois isso ajudaria a fazer força. Coitada! Deve ter se arrependido em seguida, pois a cada contração saía um grito tão alto que a minha mãe e sogra ouviam do corredor. Neste momento, minha mãe invadiu o centro obstétrico achando que alguém estava me torturando e ficou escondidinha olhando através de uma fresta na porta do meu qaurto até ser descoberta pela enfermagem.

Eu, de meu lado, comecei a perder a paciência com a dor e a demora do processo todo e avisei (prestem atenção: eu avisei, he, he, he...) ao Emerson e à obstetra que estava tendo pensamentos vis e cruéis em relação ao bebê. Ela me disse que falasse quais eram esses pensamentos e eu disse: "Eu não quero saber de mais nada, só quero que esse bebê saia de mimmmmmmmmm. Tire esse bebê de mim, jáaaaaaaaaaaaaaa".

Depois de mais alguns minutos também "avisei" aos dois que havia desistido do parto natural e que não ia fazer mais força ou nenhuma outra coisa que me pedissem para fazer, o quê era quase uma piada, pois a obstetra já havia me avisado que a cabeça do bebê já estava visível.

Depois de tudo terminado, meu marido me confessou que quando eu disse isso ele pensou "Mas se ela desistir mesmo, como é que vão fazer para realizar uma cesárea com a cabeça já saindo por baixo?". Tadinho...

A obstetra só não riu na minha cara porque é uma pessoa muito educada e carinhosa e já deve ter visto um milhão de mulheres declararem que desistiriam quando já não é mais possível desistir.

Neste momento, a obstetra me disse que eu teria que largar os dois polegares dela (meus apoios para fazer força) porque ela teria que segurar o bebê quando ele nascesse ao que eu respondi:"Nem pensar! Pede para outra pessoa segurar o bebê, pois eu não vou soltar os seus dedões".

Ela olhou para a neonatologista e perguntou se ela poderia segurar a cabecinha do bebê quando ele nascesse, momento que estava cada vez mais próximo e ela respondeu que nunca havia feito isso antes. Mas nem a declarada inexperiência dela nesse tipo de intervenção me convenceu a soltar os polegares da obstetra e a neonatologista, mesmo com um pouco de receio da novidade, ficou a postos.

De repente, um milagre se fez, e bem quando eu "desisti" de fazer força, meu corpo assumiu o comando e, como num passe de mágica, começou a fazer força sozinho. Eu já não precisava fazer força, só gritar! Que beleza!!!

A obstetra me disse que já via o cabelinho do João e disse para o Emerson olhar. Claro que eu também não soltei o Emerson e dali a poucos segundos o João começou a sair. Lentamente.

Lentamente demais para o meu gosto e eu perguntava (sabe lá Deus como eu conseguia ser tão racional no meio dessa experiência visceral!) para a Betina: "Mas escuta, no Discovery Health as mulheres ganham o bebê em uma única contração após a cabecinha apontar! Quantas contrações mais eu vou ter que agüentar???" E ela respondeu que quanto mais contrações melhor, pois não dilasceraria meu períneo. Eram 17h e mais umas 3 contrações e o João finalmente saiu!

Logo ele me foi dado e imediatamente o coloquei para mamar. Ficou claro que ele sabia exatamente o que fazer. Emerson cortou o cordão, após ele parar de pulsar e as dores su-mi-ram. Eu era um ser humano razoavelmente educado novamente!

No entanto, era impossível não me perguntar com quem este filho nosso era parecido, já que nas minhas fantasias ele seria uma miniatura de mim mesma e claramente este menininho não tinha, na aparência, nenhuma característica minha.

Mais tarde, meu marido me confessou que teve a mesma impressão, de que João não se parecia em nada com ele. Após alguns minutos chegamos a conclusão de que ele, na verdade, era uma miniatura do avô paterno!

Bem, com grande felicidade e após ter amamentado meu filhote voltamos aos últimos esforços para expulsar a placenta que espontaneamente não quis sair, nem com a ajuda da amamentação e a dose extra de contrações que ela proporciona. Então, a obstetra sugeriu que eu a deixasse puxar a placenta, antes que meu útero começasse o processo de contração e a coisa toda ficasse mais difícil. Sob fortes protestos meus (que me sentia já em outra parte processo que não incluía dor ou esforço físico) ela puxou de uma vez a placenta, que segundo meu marido foi a coisa que mais o impressionou em todo o parto (!?). Disse ele que parecia um edredon, he, he, he...

Bem, entraram as avós e todos curtimos um pouquinho desse momento tão especial, antes de o João ter que dar uma passadinha de rotina no berçário e seguir para o apartamento junto comigo.

Considerando toda a dor que eu senti, e o relativo longo período de contrações, os esforços, momentos de desistência, e qualquer outra coisa que possa soar negativa, o que posso dizer à todos é que EU FARIA TUDO DE NOVO, do mesmo jeitinho. Amei esta experiência intergralmente e sei que soará incrível, mas já tenho saudades dessas sensações todas. Parir meu filho foi a experiência mais forte e a lembrança mais prazerosa que tive em toda a minha vida.

Todo o processo foi extremamente ajudado pelo fato de ter podido contar com o apoio, participação, compreensão e amor incondicional do meu marido em todos os momentos (inclusive naqueles em que eu o empurrei e xinguei), do mais alegre ao mais dolorido e também pela presença da obstetra, em quem eu depositei total confiança e cuja simples presença me fez confiar que tudo daria certo.
E é à minha obstetra que dedico este relato.

Com todo carinho, da nossa família,

Adriana, Emerson e João.

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